Passatempos
Desaparecidos
Se eu
quisesse desaparecer tenho quase a certeza de não ia enviar o meu plano para
uma emisora nacional. Ou se calhar até mandava, só para despistar... Por isso,
se eu algum dia desaparecer, façam de conta que nunca ouviram falar de mim.
O que eu queria mesmo era ser rico, fugir para uma ilha
tropical e estar permanentemente rodeado de gajas boas.
Mas como isso dificilmente vai acontecer sem mais nem menos,
tenho de pensar num plano alternativo.
Quando eu
era pequenino a minha avó costumava dizer "Corta a cabeça e foge para
Espanha." quando queríamos desaparecer. Até nem seria mal pensado começar
por aí. Mas com a cabeça presa ao pescoço, obrigado.
Para não deixar rasto, levantava todo o (pouco) dinheiro que
tenho no banco e destruia o cartão. A seguir comprava um bilhete de combóio
para perto da fronteira. Quanto mais lento melhor, porque nesses dá-se menos
nas vistas. De mochila às contas e barba de três dias passo bem por um
interrailer...
Passava a fronteira a pé e apanhava outro combóio para o
Sul de Espanha. Agora já podia ser menos discreto porque tinha saído de
Portugal e era só mais um estrangeiro.
Se as coisas correrem bem consigo chegar a Ceuta e passar a
fronteira para Marrocos antes de me procurarem fora de Portugal.
Em Marrocos apanho boleia num qualquer cargueiro que se
dirija para Sul.
Com a sorte que tenho, vou entrar num cargueiro a cair de
velho, carregado com estrume fora de prazo... Tanto melhor, assim ninguém
quererá ver que contrabando levam e não dão comigo.
Umas semanas depois já devo ter chegado a São Tomé, onde
me dedico à venda de estrume fora do prazo por catálogo através dos
conhecimentos firmados a bordo.
Tenho a certeza de que vai ser um sucesso!
Com os fabulosos lucros gerados por este negócio inovador ou
porque encontrei uma mina de diamantes abro uma estância de férias exclusiva
para suecas dos 20 aos 30.
O meu plano só chega até aqui... Acho que o meu sonho fica
completo. Deixa cá recapitular:
Rico -
confere;
Ilha tropical
- confere;
Rodeado de
gajas boas - confere.
Bom, acho
que já só me falta a mochila e a vontade de fugir. Se quiserem também podem
vir!
Queluz, 11 de Novembro de 2006
88 anos depois da assinatura do Armistício que pôs fim à Grande Guerra.