Biografia e notas pessoais

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Capítulo Quinto

também conhecido como Barrigada,
onde se descreve a razão do
sucesso da Telepizza em Portugal

 

    Numa, tristemente célebre, noite de estudo, julgo que de Física, aconteceu que íamos perdendo um colega...

    Aqui fica o relato desse dia fatídico.

    Tínhamos pedido autorização para ficar a estudar até altas horas da madrugada, na faculdade. Como éramos muitos (eu,  MaJORGEneral, Pinheiro, MigMac e LogoPita - se faltar alguém, que se acuse) resolvemos ocupar uma sala no piso de Química.

    Para quem não sabe o que é o LogoPita, passo a explicar.
    Imaginem um ser único, um misto de macho e fêmea, mas sem ser hermafrodita. É capaz de se separar, mas não por muito tempo. Parte dele é alto e daltónico, com aspirações de ser o próximo Belmiro de Azevedo das mega-superfícies. A outra parte é mais baixa, mas tem a força de 15 homens (daqueles bem nutridos!).
    Costumam deslocar-se no hiper-espaço (no seu dialecto chamam-lhe Mega-Espace), a alta velocidade e com música alta. O seu recorde é 204 (não sei bem o quê).
    Se alguma vez virem semelhante animal, fujam. Se não o fizerem serão tornados sócios minoritários da futura mega-cadeia de mini-mercados Ti Lena. As vossas acções permitir-vos-ão comprar ao mesmo preço que toda a gente, mas terão tratamento preferencial, obviamente!

 

    O estudo lá ia correndo como podia. O facto é que não estávamos nada inspirados, preferindo brincar com o mIRC em vez de calcular maneiras de fazer caber carros de 4 metros em garagens de 3...
    Uma ideia fantástica para os japoneses, que andam sempre à procura de maneiras de fazer caber cada vez mais gente nos metropolitanos... Se acelerarem os passageiros até velocidades próximas da luz, estes vão ocupando cada vez menos espaço... e podiam despedir os senhores de luvas brancas que, hoje em dia, se encarregam de manter a lotação sempre acima dos 300% da capacidade de projecto.

 

    A fome começou a apertar e, de uma forma ou de outra, apareceram 4 ou 6 pizzas familiares. Neste momento a minha costela de Obélix tornou-se evidente... comecei a devorar fatia atrás de fatia... a quantidade de comida que tinha ingerido era sobre-humana... o volume ocupado pela comida no exterior nunca caberia na minha fraca figura... quando se acabou a pizza  passei às côdeas deixadas pela metade esquisita do ser único (LogoPita fêmea), que não gostava delas. Ao fim de 5676 fatias ingeridas sentia-me quase cheio. O certo é que acertaram em cheio com a quantidade. Foi a pizza a acabar e eu a deixar de comer.

    Uns minutos mais tarde o Pinheiro começou a fazer palhaçadas. Alguém disse uma piada, Outro contou uma bela duma anedota. A situação estava a tornar-se cada vez mais perigosa. Um verdadeiro barril de pólvora. Isto porque a parte brincalhona do ser único (LogoPita macho) se ria cada vez mais e a sua tez era cada vez mais violácea. Todos sabíamos que quando chegasse a roxo puro rebentava. A nossa sorte é que ele é daltónico e nunca sabe de que cor está...

    Quando o LogoPita macho se rebolava no chão, contorcendo-se de dores, implorando que parássemos, o Jojoca estava a leste. Tinha sido o único a manter-se concentrado no estudo. Levantou-se para apanhar uma folha que lhe tinha caído para baixo da mesa, mas não a encontrou... procurou debaixo de todas as mesas, mas continuou sem a encontrar... verificou se não se teria enganado e a folha ainda estivesse na mesa, mas não a encontrava.

    Quando o ser risonho se apercebeu do que se passava passou a rir-se de um modo tal que nos fazia dó. Julgámos que teria de ser abatido por estar em tanto sofrimento. A sua cara estava totalmente vermelha, os olhos revirados e os músculos contraídos de tal modo que parecia estar a ser queimado vivo. A única coisa que revelava estar-se a rir era o eventual soluço que soltava, entre exclamações como «Parem, parem, não posso mais.... HAHAHAHAHAHAHAHA... ai, ai, parem...».

    Riu-se ainda mais quando viu a cara do Jojoca, totalmente estupidificado com o raio da folha que tinha desaparecido diante dos seus olhos. Aquilo era tudo o que lhe interessava. A folha que lhe tinha dado tanto trabalho para fazer...

    De repente descobriu-a. Tinha caído para baixo da mesa, deslizado pelo chão e passado por debaixo da porta. Estava do lado de fora, nas passagens de emergência, às quais não tínhamos acesso. Foi a gargalhada geral. Até o Jorge se riu da sua desgraça. E começou a berrar «A folha está lá fora! A folha está lá fora!».

    O pobre do ser que se contorcia no chão sufocou instantaneamente. Já se estava a rir que nem um perdido. Nesse momento deve ter tido cãibras no diafragma, na cara, nos olhos e nos cabelos. Deixámos de o ouvir cacarejar. Foi preciso reanimá-lo. Só passados longos minutos é que foi capaz de se levantar, por estar tão dorido. Afinal, não é todos os dias que uma pessoa se ri durante quase um quarto de hora, sem parar.

 

A conclusão que posso tirar desta história é a de que toda a gente fica feliz quando a relembra.

    Talvez haja uma excepção. O homem que ia sufocando e, ainda hoje, apresenta marcas na cara, devidas ao esforço muscular dessa noite.

 

    Espero não ter faltado à verdade. Esta noite foi deveras memorável.