Motas

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O Acidente

    Pois é, um dia tinha de acontecer...

    Tive a minha primeira queda de mota. Não foi bonito.
    Neste momento tenho o braço direito ao peito e a Deauville na sucata.

    Para memória futura, cá vai o meu relato do sucedido. Suponho que a versão do outro condutor seja totalmente diferente desta, nem que seja porque "os gajos das motas são todos uns assassinos"...

    Tinha saído de casa para ir beber um cházinho a Caneças quando, nos Quatro Caminhos de Queluz, fui surpreendido por um senhor que não respeitou o sinal de STOP da Rua D. Pedro IV. Para além de não ter respeitado o sinal, ainda circulava fora de mão.
    Eu já vinha a fazer sinal para a esquerda desde a passagem de peões anterior, ainda buzinei e fiz sinais de luzes enquanto me desviava para a esquerda o mais possível, já que se parasse apanhava com ele mesmo de frente.
    Acabou por me bater no lado direito da mota, atirando-me a traseira para cima e para a esquerda. Andei uns dez metros só na roda da frente e só mudei de direcção quando me espetei contra uma Renault Master que lá estava estacionada. É claro que me passou tudo pela cabeça nestes momentos. Felizmente que a frente da mota absorveu grande parte do impacto e me atirou de novo para a direita.
    Ao embater no passeio, a roda da frente fez com que o guiador voltasse com violência para a direita. Ora eu ainda estava a apertar o travão e toda essa energia foi absorvida pelo meu pulso.
    Parei quatro metros à frente, contra a traseira de um carro verde, onde a frente da mota acabou por ficar ainda mais destruída.

    Assim que dei por mim vivo, saí da mota e procurei saber se o condutor tinha parado - sim, parou. Olhei para baixo e vi a desgraça. A Deauville estava espalhada por todo o lado! Doía-me o pulso e a perna direitos. E a Deauville estava desfeita. Pedi que me tirassem a luva esquerda para poder avaliar o estado da mão direita. E a Deauville tinha bocado a menos. A mão estava inteira mas não podia rodar o punho. Mas a Deauville estava desfeita e isso ainda doía mais!

    O condutor do Astra veio perguntar se eu estava bem. Pedi-lhe só que chamasse uma ambulância. Entretanto já tinha toneladas de gente à minha volta e várias testemunhas que me ofereceram logo moradas e telefones. Muitos mirones vieram ver o cadáver, já que a mota parecia ter estado envolvida em acidente mortal.

    Telefonei à minha irmã para me vir buscar a top-case (miraculosamente intacta) e pus lá todo o conteúdo da mala direita, o capacete e as luvas. Optei por tirar o capacete pois não tinha dado nenhuma cabeçada violenta em lado nenhum, não tinha dores nenhumas e nem me sentia tonto. É claro que o tirei com muito jeitinho, não fosse o diabo tecê-las.

    Fui até ao Hospital Fernando Fonseca onde fiquei à espera de entrar na triagem. Esperei cerca de hora e meia. Entretanto telefonei à minha mãe a dizer que tinha dado um toque com a mota e que tinha vindo ao Hospital fazer umas radiografias ao pulso, só para ter a certeza de que estava tudo bem...

    Enquanto esperava, apareceu a polícia. Vinham-me fazer soprar no balão... deram-me a pipeta selada para a mão, mas eu não a conseguia abrir só com uma mão. Lá pedi ao polícia que ma abrisse. Ele não queria "questões de higiene", dizia. Acabou por se convencer de que se não ma abrisse, ia ficar a olhar para ele feito parvo. Soprei no balão e acusou água mineral, como é costume. Foram-se embora e recomendaram que fosse prestar declarações à Esquadra de Queluz.

    Fui triado e deram-me uma bolinha amarela para colar na etiqueta com o nome. Segundo o quadro electrónico, ainda me faltavam 3h25m de espera. À meia-noite foi actualizado e só tinha de esperar mais 50 minutos.
    Lá me chamaram para a Radiologia, onde me fizeram umas fotografias indiscretas dos meus ossos. Nem vos conto a aventura que é despir umas botas e umas calças só com a mão esquerda e o joelho direito dorido. Mas eles quem se atrevessem a pensar que mas iam cortar!

    Depois foi esperar mais um bocado e chamaram-me para duas pontas dos hospital ao mesmo tempo. Electrocardiogramas e Ortopedia. Fui a coxear até aos Electrocardiogramas... demorei uma eternidade.

    Ana Rita Cabaço (as coisas que ficam na memória de um gajo), a bonita técnica de Radiologia ainda tentou meter conversa enquanto me pespegava os eléctrodos para o electrocardiograma, mas na altura não estava muito virado para aí. Apanham um homem debilitado e perde-se a oportunidade de conhecer raparigas jeitosas... isto é que é azar.

    Uns minutos depois tive o prazer de coxear de volta para a Ortopedia, onde me perguntaram porque tinha demorado tanto tempo.

    Resumindo um pouco a conversa:

- Vai ter de ser operado.
- Operado, porquê?
- Tem o punho partido.
- Mas não vejo nada na radiografia...
- Tem de ser operado. Está partido. Assine aqui.

    E lá tentei fazer uma assinatura menos ilegível que o habitual, com um punho partido.

    No dia seguinte, às 18h espetaram-me uns pregos no punho e disseram que era para ficarem lá até ao Natal.

    Bom e o resto... logo se verá.