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26  04 2012

Art Déco em fim de vida

O material que prometia o futuro no final do séc. XIX foi o betão. A alvenaria de pedra, apesar de continuar a ser usada normalmente até meados do século seguinte, entrou na categoria de método arcaico e de qualidade duvidosa. O betão anunciava estruturas diferentes, edifícios de paredes mais finas e geometrias impossíveis. Algo que os romanos souberam fazer quando construiram o Panteão de Roma. O betão era a alta tecnologia da época, mas, infelizmente, com a queda de ambos os impérios romanos, o saber perdeu-se. No entanto, os pedreiros continuaram a fazer o que sempre fizeram, assentar pedra sobre pedra, a erguer paredes que se sustentavam por gravidade e um pouco de argamassa séculos a fio.

O cimento moderno, que permite fazer betão, surgiu no princípio do séc. XIX, mas a nova tecnologia não se expandiu depressa. O betão permitia prescindir de quem sabia usar a pedra e lhe conhecia as fraquezas, o que não lhe granjeou muitos apoiantes do lado dos pedreiros. Foi só depois a Grande Guerra de 1914 que ganhou mais adeptos. A principal motivação foi a falta de mão-de-obra. Quase todos os pedreiros em idade de combater foram recrutados para a guerra e muitos deles não regressaram. O betão perdeu muitos inimigos e uma nova geração de pedreiros precisava dele para continuar a trabalhar com pessoal menos especializado.

Nesta altura começou-se também a explorar as potencialidades do novo material. Grandes vãos e elementos lineares de tamanhos considerados impossíveis passaram a ser fáceis de executar. As linhas naturalistas e sinuosas da Arte Nova deram lugar às longas linhas e motivos geométricos da Art Déco que, por sua vez, durou até à grande guerra seguinte.

Art Déco
Art Déco, Sintra

A maioria dos grandes edifícios desta época, teatros, edifícios públicos e hotéis, completam quase um século. Estão em fim de vida porque o betão, que prometia durar para sempre, também tem as suas falhas. Apesar de parecer resistente como a pedra, por vezes apodrece como a madeira se não foi cuidado. Um pouco por todo o país vemos os velhos teatros fechados. Alguns são exemplos notáveis de Art Déco, mas estão entaipados, servindo de abrigo a pombos e com os telhados a deixar entrar mais água do que Sol. Temos pouco tempo para os poder apreciar.

 

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Art Déco em fim de vida”

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  1. esta foto não é na Portela de Sintra ao lado dos correios (CTT)??? é que na legenda diz Santarém… e eu ia jurar que é na Portela de Sintra… passo lá todos os dias…

    Um abraço

    Bruno.

  2. É em Sintra sim senhor. Tinha o intuito de colocar uma fotografia do Teatro Rosa Damasceno, de Santarém, que é um exemplo tardio da Art Déco. Por lapso, usei a fotografia do antigo cinema de Sintra, também ele do mesmo estilo, mas cerca de cinco anos mais novo. O artigo já está corrigido. Obrigado pela atenção.

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